Thiago Suman: “O Inter e o tempo”

O Inter está de aniversário, torcedor. 113 anos.

Com o centenário do Clube do Povo fechamos o primeiro século de história e vamos combinar, foi bem vivido, né?

Foi de glórias, façanhas, alguns tropeços e incontáveis aventuras…

Então, recém estamos com 13 anos do novo ciclo. Uma jovem fênix renascida que ainda está buscando pisar firme no chão da nova vida, com pernas que ainda não conhecem o chão, mas com uma memória vívida de saber como é cada cantinho do céu de conquistas.

Como é irreal ser do Inter, né? Você que está lendo entende o que falo, pois também se angustia com a tamanha dificuldade de conseguir explicar essa metafísica experiência que desafia tudo que possa ser dito em palavras. É só nosso e ninguém de fora consegue compreender e azar.

Tem gente que está todo dia no Beira-Rio, uns que vão vez que outra, uns que vão quando dá, os que estão longe dos pagos e por isso acompanham de fora. Tem gente de todas as matizes, origens e dinâmicas de vida, tem de tudo um pouco e um pouco de tudo e essa geleia geral da arquibancada, que dos Eucaliptos passou pela Coréia e chegou na remodelada casa digna de Copa do Mundo, é a nossa gente. Uma tribo que se ergue quando conclamada e que modera a natureza, dando ao tempo um certo tempo para viver mais intensamente cada segundo com o Inter. É a teoria da relatividade na mão de cada torcedor colorado. Nós manipulamos os ponteiros do relógio, pois não queremos que o tempo passe quando é dia de intensa emoção e ponderamos acelerar o ritmo quando as lágrimas estão apressadas para cair da face para então ficarem tatuadas para sempre no chão do Beira-Rio.

O tempo é amigo fiel e rival mais desafiador que muitos adversários de campo.

E dia de aniversário nos deixa sempre mais emocionais, não é mesmo? Passa um filme na cabeça e quando se trata do colorado, não é filme, nem trilogia, é uma boa série de muitas temporadas, uma novela épica, uma saga das mais fabulosas… então, precisaríamos de mais de um aniversário por ano para relembrarmos ao máximo os nomes, os lances, os canecos, os dias, tudo. Que quente e aconchegante é essa casa de memórias. Tão confortável que chamarei de: Gigante da Beira-Rio das nossas eternas lembranças.

Nada é maior que o Inter. Nenhuma pessoa, nenhuma época, nada. O Inter é um Deus no Olimpo do futebol, que recostado em sua cadeira de balanço, vê lá de cima tudo que acontece aqui em baixo e ri da gente, pois por eterno que é, já sabe o que virá na frente e não nos prepara, para aprendermos a lição.

Os dias mais sofridos vão sumir e virar poeira e os dias mais inesquecíveis serão parte da gente como se deixassem um botão que só precisa ser apertado para nos levar de volta para aquela emoção e tudo estará tão claro como a luz do sol que se derrama no Guaíba e veste de roupa de verão o Parque Marinha e ainda repinta de laranja avermelhado os pilares do Beira-Rio. O tal sol do gol iluminando.

O pátio do Beira-Rio em dia de jogo é uma Torre de Babel do povo que só se acha por saber um idioma universal: os cânticos que empurram o time para a refrega dentro da cancha de jogo.

O gramado do Beira-Rio é um santuário onde repousam os gols de título e de salvação. Ecoam na gente. É louco, não sei explicar.

A sala de troféus do Beira-Rio também é um lugar sagrado. Devemos entrar em silêncio e sair cantando. Lá está cada cicatriz, riso, pulsar de coração, grito, medo, angústia, unha roída, abraço apertado, reclame, xingamento, blasfêmia, falta de voz e grito empolgado, bebedeira, insanidade, lucidez e aquele silêncio gritante antes da rede soar um “chuá” para então dobrar os sinos do povo em festa.

É claro que também sabemos quando passamos por tempestades, mas os mares bravos fazem marinheiros dignos da temperança. Tudo passa, sempre há de passar. Dói, mas cura. Já foi assim, está assim, não será a última vez. Mas nós estaremos perenes e inabaláveis.

Quanta coisa mais eu poderia escrever nessa carta aberta, torcedor e torcedora que me lê… mas parece que quanto mais eu falo, menos digno da nossa história e da nossa vivência esse texto está.

O Inter não se explica mesmo, então vou parando por aqui e desejando feliz aniversário a todos nós. Nós somos o movimento vivo do pêndulo do tempo. Somos o Inter além da matéria, somos essa cósmica energia que faz do Celeiro de Ases o ar para os pulmões e o sangue que corre em nossas veias. Somos tudo isso e nada disso importa quando se trata de futebol, pois no próximo instante da próxima rodada tudo isso some em cinzas e renasce de novo e aí teríamos que explicar para essa gente de fora, mas melhor só sentir, né?

Vamo, Vamo, Inter!

Foto: Ricardo Duarte / Inter

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