Inter, Bênção e Maldição

Que angustiante é não ter certeza sobre o futuro. Isso vale para todas as etapas e todas as circunstâncias da nossa vida. Mas, e quando se trata do futebol? Como faz?

Ora, futebol é somente a coisa mais importante das desimportantes. Sabemos disso, porém, há temporadas em que a gente se encolhe de expectativas, pois nada justificaria empenhar um único crédito de que algo bom chegaria; outras vezes, nossa sinergia como torcida faz com que acreditemos até o último suspiro do segundo tempo do jogo, e vamos crentes até que o verdugo, vulto árbitro, trile o apito como fosse uma guilhotina.

Porém, nós, os colorados, vivemos um tempo bizarro, uma sensação estranha que mistura um bocado de cada uma dessas sensações contraditórias. Ao mesmo tempo que em campo o time arraste as esporas cansadas de quem não parece ter mais forças para a lida, que os senhores feudais do clube nos tenham mastigado a confiança com promessas de ruptura que se tornaram a mais comum e fisiológica política continuísta que surrou nosso Inter nos últimos anos (e, mais do que isso, com resultados que são o somatório desses dois fatores de desgaste, já que apanhamos para o Globo-RN, perdermos a vaga da final para o Grêmio, tomamos cascudos de menores pelo Gauchão, ou mesmo quando tudo parecia desaguar para uma retomada, abrimos vantagem de dois gols sobre o lombo do time de rodapé de tabela do campeonato equatoriano e cedemos empate com um time pesaroso, acabrunhado e que retrata em campo o que justamente lamentamos: um derrotismo convencido de que é esse nosso único cenário possível) mesmo assim, mesmo depois de todo esse caos, ainda tem algo que atiça o torcedor.

Veja bem, torcedor e torcedora que me leem agora, todo esse parágrafo anterior seria suficiente para que o texto enveredasse pela ideia de que a expectativa foi assassinada já no começo da temporada e seu corpo fora jogado em uma vala rasa, sem que a esperança possa sequer reivindicar o cadáver da irmã gêmea que lhe acompanha nas orações do torcedor que não desiste nunca. Mas não. Curiosamente, por mais que essa fosse a lógica, o Inter parece ser uma maldição na qual fomos enredados, pois não conseguimos assumir essa postura que seria aceitável, justa e até óbvia. Não dá, não conseguimos deixar de lado, dar de ombros e entregar os pontos…

Há um que de lirismo no delírio coletivo de uma nação que joga para o alto a racionalidade e bota para fora, seja em lágrimas, grito ou simplesmente um torto silêncio, essa coisa louca de ainda assim acreditar.

Se fossemos levar em consideração todos esses fatores já ditos, como contratações duvidosas, permanência de personagens já desvalidos, ideias bisonhas de jogo, teríamos passado um cadeado no portão desse amor para nunca mais abrir. Ora, vocês sabem tão bem quanto eu que simplesmente não conseguimos. Eu disse antes que pode ser uma maldição, mas também pode ser uma benção, já que há um que de mitológico nesse renascimento do torcedor.

Depois de tantas batalhas perdidas e de chegarmos em meados de abril já cansados, um novo desafio está na linha fria do horizonte nos aguardando…

O campeonato mais exigente, cuja fórmula pouco favorece quem está vulnerável e sem armadura para esse longo combate, está para começar.

Não há nada de científico que sirva nesse contexto, nenhum recurso está à mão, e se gritar por socorro ninguém virá ajudar, mas ainda assim já estamos renovados, batizados pela coisa santa de ser do Inter, mesmo diante dos ditos mais ricos, dos encorpados, dos que se prepararam melhor, enfim, nós estaremos lá, ombreando sonho com quem bota fé como a gente.

Ainda que em campo não nos mereçam, faremos isso mudar, por mais que nos gabinetes não nos mereçam, faremos isso mudar, mesmo que a noite seja longa, o dia já vem. Bem-vindo, então, Brasileirão. Avante, Inter. Estaremos juntos, pois é quando tu menos nos merece que nós mais te amaremos.

Foto: Divulgação Inter

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